quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

primeiro Manual de Anatomia, num só livro e em Português

 https://www.medicina.ulisboa.pt/newsfmul-artigo/107/nasceu-o-primeiro-manual-de-anatomia-num-so-livro-e-em-portugues

News nº
107
(Visite a edição completa)
AUSCULTAR A FMUL
Nasceu o primeiro Manual de Anatomia, num só livro e em Português

senhor sentado no gabinete

"Sentia que era preciso ter um Manual de Anatomia à imagem daqueles Americanos que ensinavam o essencial sobre a matéria", explica-me, numa conversa perfeitamente descontraída, um dia depois da apresentação oficial do novo Manual de Anatomia Humana.

Por seguirem formas de ensino ligeiramente diferentes entre culturas americana e portuguesa, mais se adensava a necessidade de construir algo de raiz, prosseguia. E, apesar de qualquer aluno de Medicina saber inglês, a facilidade de apreender matéria na sua própria língua era também argumento forte.

António Gonçalves Ferreira é Professor Catedrático de Anatomia, Neurocirurgião e Diretor da Clínica Universitária de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

Congeminava um manual já há mais de 30 anos, prova de que os sonhos são como as grandes árvores, precisam de tempo para crescer. Diante de uma proposta de uma editora, percebeu que o desafio era tentador, mas igualmente sério.

Tinha a perfeita sensibilidade para avaliar que faltava documentar a Anatomia geral para estudantes e que, apesar da existência dos cinco volumes do já falecido Prof. Esperança Pina, havia um certo excesso de pormenor dos “grandes tratados de Anatomia”, como refere, que não eram necessários para jovens a contactar com a Anatomia pela primeira vez.

Fazer um manual destes obrigava a envolver os melhores intervenientes. Assim aconteceu, desenhou um primeiro esboço, logo com a premissa que os Regentes de Anatomia das Faculdades de Medicina do país tinham de participar. A semente ficou em repouso, mas a germinar em terreno fértil, demorou anos para acontecer, mas a partir do momento em que os Professores de Anatomia da sua geração, pudessem reagir com autoridade suprema, não só iriam regar a ideia, como alimentá-la. Foram esses que se tornaram os coautores de um Manual que era assim aclamado por todas as Escolas Médicas do país.

 

livro inteiro

 

Maria Amélia Ferreira, Professora de Anatomia e ex-diretora da Faculdade de Medicina do Porto, Artur Águas, Diretor de Anatomia do ICBAS e António Carlos Miguéis, Catedrático de Coimbra, assinavam assim o Manual que vê uma coordenação tripartida entre Gonçalves Ferreira, Lia Neto, atualmente Regente de NeuroAnatomia, e Ivo Furtado, todos Professores da Faculdade de Medicina.

 

3 pessoas em pé
Da esq para dta: Professores Ivo Furtado, Gonçalves Ferreira e Lia Neto

 

Nascia então um livro facilmente transportável que, embora mais empático para o novo target, mantinha um rigor obrigatório para o nível de exigência de um estudante de Medicina. Havia ainda outra condição estipulada por Gonçalves Ferreira, que o custo deste novo livro fosse abaixo dos €100, limite que colocou ao editor Jaime Cacella de Abreu, também presente na apresentação oficial.

Deste livro sabemos ainda que o modelo que posou para as várias situações explicativas, surgiu pelas mãos de uma antiga colega e amiga, a Professora Isabel Ritto, de Belas Artes. Sabemos também que foi contratado o ilustrador Pedro Afonso, que criou e adaptou, de forma muito paciente e com tentativa erro e nova resolução, as mais de 800 imagens deste Manual.

E como bom guia de orientação do conhecimento dos estudantes, este grande roteiro do corpo humano reúne no final de cada capítulo perguntas tipo, que podem surgir em exame e permitem uma autoavaliação permanente. Mas sempre perto das preocupações da aplicabilidade ao real, juntam-se igualmente algumas noções aplicadas à clínica.

Contar a história deste Manual seria tema interessante que bastasse para falar com o Professor António Gonçalves Ferreira, mas sabendo que falamos de Anatomia quando falamos deste Manual, era impossível não espreitar a evolução dos tempos e da própria disciplina que todos já ouviram falar num qualquer tempo da sua vida, mesmo não sendo de Medicina.

 

potes com liquido azul
Amostras no Teatro Anatómico

 

 

Os mesmos lugares, alguns anos depois.

O Teatro Anatómico, lugar que recebeu a apresentação do Manual de Anatomia Humana, era o mesmo lugar onde o estudante António fazia os seus primeiros exames da mesma cadeira.

Ainda nesses tempos agrupavam-se dezenas de estudantes que se atropelavam nesse mesmo espaço para observar as disseções de cadáveres conservados de forma tão arcaica que ao recordar esses tempos, faz ainda uma expressão de profundo incómodo referindo esse como um "momento dantesco".

Do tempo que contactou com a Anatomia enquanto jovem estudante, explica-me que a noção do vivo era pouco palpável, pois não havia grande desenvolvimento da imagem, apenas algumas ecografias ou raio-X simples.

Por todos os contrapontos que observou e viveu, Gonçalves Ferreira sempre quis fazer da Anatomia algo mais estimulante já que na sua altura refere uma obrigatoriedade sem fim de decorar matérias que depois não tinham aplicabilidade útil.

 

 

Como é que vê os seus alunos de 1º ano, quando lhe chegam à primeira aula?


Gonçalves Ferreira: Vejo-os como me via nessa altura. Lembro-me perfeitamente de estar em pé, tínhamos um número absurdo de alunos e não havia lugar para todos, estava no Anfiteatro que na altura era chamado de Anfiteatro de Anatomia, agora José António Serrano, e eu estava lá atrás da última fila. Lembro-me de estar a ouvir o Professor que dizia que “a Anatomia não era só uma questão de memória, mas também de raciocínio” e acrescentava algo como, "alguns de vocês, os melhores, poderão colaborar mais tarde comigo e com os meus Assistentes no ensino". O que é engraçado é que recebi completamente no meu coração aquela mensagem, decidi que ia fazer parte daquele grupo.

 

Tão cedo achou isso? Porquê? Entendia ter o perfil certo para isso aos 18 naos?

Gonçalves Ferreira: Sabe que o perfil constrói-se, nós até podemos ter um perfil que nos facilite as coisas, mas no caso de Anatomia é preciso saber mesmo muito sobre ela para deixar marca.

 

 

Então isso faz-se com muito, muito estudo?

Gonçalves Ferreira: Com muito estudo. Mas sabe, foi com a Anatomia que já anteriormente a mim se ensinava através do peer teatching, ou seja, os alunos mais velhos eram monitores dos mais novos. Só que nesta altura não contava com créditos na formação destes mais velhos. Os alunos que tinham nota de 16 ou mais em Anatomia, eram convidados para ser monitores. E nós aceitávamos  ter esse papel de monitores de forma voluntária, durante um certo tempo, e era nesse tempo de aulas que os Professores mais velhos mesmo iam depurando o nosso papel. E foi por esse caminho que cheguei aqui. 

 

 

Por onde se estudava Anatomia na sua altura?

Gonçalves Ferreira: Por verdadeiros tratados. Um livro chamado Rouvière, completado por um ainda mais velho, o Testut por onde se estudava o Coração.  E quando falamos em volumes o Textut tinha uns 7. Na altura aquilo era um massacre de matéria. No meu 1º ano de Medicina não pude ir de férias, porque era impensável em julho alguém passar no primeiro exame, o próprio Professor nos avisava disso. Lá viemos a exame em Setembro e as coisas correram bem.

 

Quando é que se confronta pela primeira vez com a Anatomia do vivo, do real?

Gonçalves Ferreira: Apenas nos anos clínicos. Nessa altura chegávamos aos anos clínicos e não se sabia grande realidade dos doentes, raros alunos que eram os melhores sabiam um pouco mais, mas não muito mais. Pouco tempo depois do fim do meu curso é que apareceu a TAC, permitindo-nos ver o interior da cavidade intracraneana, depois surgia a Ressonância Magnética que mostrava coisas fantásticas já com o funcionamento do próprio cérebro e tudo com muito mais detalhe. E foi precisamente nessa altura que percebi que era preciso fazer uma revolução na Anatomia e ensinar a verdadeira Anatomia que um médico moderno precisa de saber.

 

grupo de pessoas em pé
Convidados e colaboradores do Manual

 

 

A Anatomia é das cadeiras com mais Assistentes e Monitores, porquê?

Gonçalves Ferreira: Porque são todos clínicos e os seus contratos são a tempo parcial. Sempre pretendi que os meus Assistentes fossem bons clínicos anatomistas, e porquê? A Anatomia que damos em Medicina deve ser muito virada para a prática e não para a Anatomia teórica de livro. É mais rica lecionada por clínicos, porque estes ensinam de forma mais aplicada a doenças e situações mais reais. Mas não é fácil, porque estão muito envolvidos em atividades paralelas que lhes ocupam boa parte da agenda não permitindo gerir ainda tempo para carreira docente. 

Temos 28 turmas e cada Assistente tem 2 turmas, o que faz com que sejam 14 Assistentes. Na Anatomia Geral, que ocupa os dois semestres do 1º ano, e na Neuroanatomia do 2º semestre, do 2º ano, são necessários outros 14 Assistentes. Salvo raras exceções de casos em que um assegura mais trabalho. Mas há mais detalhes a evidenciar, a dificuldade de se dar nas aulas práticas toda a matéria necessária das teóricas. Apesar da reforma do ensino pretender aliviar o peso da Anatomia, a verdade é que para permitir mais tempo de estudo para os alunos estudarem, cortaram-se tempos de aulas. Se no passado davam duas aulas de duas horas práticas por semana, agora dão duas horas práticas por semana. Se o horário era mais pesado, a verdade é que era também mais abrangente em matéria, mas atualmente há menos horas de contacto humano e de prática, o que permite mais tempo de estudo individual. Feitas as contas, para que todas as matérias sejam dadas em tempo real, significa que um sistema inteiro do corpo humano exige ser dado numa semana, isto é em apenas duas horas.

 

 

lombada de um livro

A Anatomia é tão popular quanto temida por quem chega a Medicina. Porquê?

Gonçalves Ferreira: A Anatomia é uma disciplina que por mais simplificada que seja, e tem vindo a ser muito simplificada ao longo do tempo através das diversas reformas de ensino, é sempre uma disciplina "pesada". Digo sempre na primeira aula o seguinte, "vocês não precisam de saber muito a Anatomia, basta que saibam a Anatomia toda". O que quero dizer com isto é que não têm de saber os pormenores de tudo, mas não podem deixar um capítulo de Anatomia por estudar. Um médico tem que saber a Anatomia toda, do organismo todo. É nesse sentido que insisto neste aspeto que têm de conhecer as áreas todas. Mas sei que é difícil os alunos acompanharem as aulas práticas todas. 

 

médico a falar para o público
Fausto Pinto dá boas-vindas a todos

 

senhor ao fundo com uma mesa

 

É exequível dar em duas horas, numa aula, um sistema todo?

Gonçalves Ferreira: É  um grande volume de conhecimento, mesmo omitindo os detalhes. Isso obrigada a que os alunos tenham de estudar matérias que não foram dadas nas aulas. Este é um enorme desafio. As aulas teóricas têm aqui uma importância grande, pois permitem desbravar as matérias e dar as primeiras noções mais genéricas. Assim, quem participa nas teóricas, já não aparece nas práticas tão perdido.

 

Quais são hoje as coisas que os futuros médicos precisam de saber?

Gonçalves Ferreira: Precisam de saber a configuração geral de todos os órgãos de todos os sistemas. Têm que saber algumas especificidades, pormenores; no que diz respeito aos nervos e vasos sanguíneos, por exemplo, é importante saber que estes têm características muito diferentes. Também é muito importante aprender uma Anatomia que se possa aplicar aos conhecimentos da clínica. E isso quer dizer que alunos acabados de formar, têm de saber olhar para uma TAC ou Ressonância e saber o que lá está. Só nos últimos anos é que temos insistido que os alunos façam uma integração que permita aprender a Anatomia por cortes seriados, pois a TAC e Ressonância são feitas assim. Por vezes depois há a construção tridimensional, mas um médico tem que saber ver por cortes seriados. Esta é a Anatomia seccional que tem de ser ensinada.

 

 

Na sua apresentação deste novo Manual dizia a dada altura "este livro não pretende ser um tratado, mas um manual". Quem precisa de ler os tratados então se não são os estudantes?

Gonçalves Ferreira: Os tratados são livros de consulta, não são obras de estudo sistemático para estudantes.

 

 

Este vai ser o Manual a adotar pela Faculdade a partir do próximo ano letivo?

Gonçalves Ferreira: Eu espero que sim foi feito a pensar nisso. Mas há algo inédito é que este livro conseguiu reunir o consenso das Faculdades do país e isso traduz a qualidade da obra e um certo consenso sobre os conteúdos de Anatomia para o ensino médico em Portugal.

 

 

Este Manual basta aos nossos estudantes para serem bons?

Gonçalves Ferreira: Basta. Até tem algum conteúdo dispensável.

 

 

senhor sentado de máscara

 

Dia 20 de novembro o Manual de Anatomia via finalmente a sua edição concluída. Só na Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina foram já vendidos 81 livros e no total pelo país atingiram-se as 250 vendas. Este Manual custa €80 e os estudantes têm 20% de desconto sobre esse total. Para quem o quer comprar, saiba que já está à venda em todo o país, nas livrarias de todas as Associações de Estudantes das Faculdades de Medicina e diretamente pela Prime Books. A partir de março entrará no mercado livreiro mais global.

 

 

Joana Sousa
Equipa Editorial

sábado, 12 de dezembro de 2020

REDUCES STRESS, ANXIETY & Makes You IMMUNE To Illness | Wim Hof & Lewis Howes

 

This Trick REDUCES STRESS, ANXIETY & Makes You IMMUNE To Illness | Wim Hof & Lewis Howes


LIVRO - The Theory That Would Not Die

 

The Theory That Would Not Die
The Theory That Would Not Die
By Sharon Bertsch McGrayne
New York Times Book Review Editors’ Choice: Bayes’ rule has been used in important work from solving the Enigma code to decoding DNA — but it has also incited over a century of controversy. This brilliant book explores the dramatic history of the seemingly simple one-line theorem.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

1923-2020 Eduardo Lourenço em 40 frases

 

1923-2020

Eduardo Lourenço em 40 frases



Portugal e Europa, vida e morte, cultura e Pessoa, tempo e poesia, língua e pensamento, religião e artes, o próprio e os outros. Sobre tudo isto refletiu Eduardo Lourenço.

INFÂNCIA

"[A memória mais antiga que tenho] é a do Porto. Embora tenha nascido na Beira, numa terrinha, vim para aqui pequeno. As primeiras imagens que tenho da vida são do nevoeiro, das fábricas, do nevoeiro que atiravam as chaminés. A família repercute esse género de memórias. Lembro-me da frescura de uma fonte onde o meu pai, que era militar, ia buscar água - é uma imagem rústica daquilo que era uma cidade. A imagem que mais me aterroriza, quando estou distraído, é a imagem de um vermelho sangue, que penso que era de um camião que distribuía a carne. Uma outra imagem, que não é do Porto, mas de Matosinhos, creio eu, é a da primeira vez que vi o mar. Da minha aldeia não se via o mar."

DNa, Diário de Notícias, 2003

VIDA

"A própria vida produz sentido sem nos pedir explicações. Não há uma determinação e um projeto concertado de atingir um tal fim ou tal objetivo, ou ter aquilo a que se costuma chamar de carreira, de correr para uma meta específica. Tenho vivido deixando-me surpreender."

"Entre Nós", Universidade Aberta, 2002

"Em geral, nós somos o discurso dos outros. Nós, por nós próprios, não temos discurso. Não devemos ter. Mas mesmo que quiséssemos ter também não tínhamos. Agora, cada um, no seu relacionamento com o outro tem uma imagem. Culturalmente, no domínio da imagem pública, sou um ensaísta. E já estou crucificado nessa maravilhosa cruz."

Público, 2003

"Não há definição exterior à nossa própria vida, ela não tem exterior. Nós somos a nossa vida, não temos outra definição, é esta. Olhando para trás, vejo-a com espanto - de que ela não possa recomeçar.""

Podcast "A Beleza das Pequenas Coisas", Expresso, 2016

OS OUTROS

"O que mais me surpreende nos outros: a autenticidade. Cada pessoa é um mundo. Mesmo as pessoas que têm momentos de menos visibilidade e relevo, as pessoas são um mistério a que nunca daremos a volta."

Podcast "A Beleza das Pequenas Coisas", Expresso, 2016

PENSAMENTO

"O desejo de conhecimento é o que define o homem, desde Aristóteles. Somos aquele que deseja conhecer, deseja conhecer tudo, deseja conhecer sem fim. Os gregos foram os primeiros a falar dessa libido, desse tonel que nunca seria preenchido, que a sabedoria máxima era ter o conhecimento do que não se sabe."

DNa, Diário de Notícias, 2003

"Pensar é um diálogo que temos connosco próprios."

Expresso, 2017

CULTURA

"Vemos a nossa cultura como um museu e a do outro como uma coisa viva."

Público, 2001

"A cultura serve para nos despir de toda a arrogância, particularmente essa que consiste em imaginar que, sendo cultivados, encontramos Deus. A cultura é um exercício de desestruturação, não de acumulação de coisas. É uma constante relativização do nosso desejo, legítimo, de estar em contacto com aquilo que é verdadeiro, belo, bom. É esse exercício de desconfiança, masoquista, de desencantamento. Só para que não caiamos no único pecado, que é verdadeiramente o pecado contra o espírito: o orgulho."

DNa, Diário de Notícias, 2003

LÍNGUA

"A nossa identidade é-nos dada pela língua. O resto é identidade humana, normal, genérica. A identidade no sentido em que a tomamos, como qualquer coisa de particular, uma voz que é só nossa, que escutamos, é dada pela língua. Em segunda instância pela escrita, pela memória escrita. Uma cultura é uma memória, qualquer coisa que se está sempre a reciclar dentro do mesmo."

DNa, Diário de Notícias, 2003

ARTES

"Somos pessoas racionais, animais racionais, se bem que a nossa animalidade seja discutível. Porém, os artistas não criam em função da razão ou do bom senso. Criam em função de um estímulo de qualquer coisa, que os ofusca e interroga. E, se tem uma tradução imagética, essa tradução é a primeira manifestação de arte propriamente dita. A essência da arte é a mimesis. Estamos cercados de objetos e tentamos perceber de que é que eles nos falam. Com exceção da música, as artes são imitativas e nasceram de uma cópia da própria natureza."

Expresso, 2017

"A literatura não tem uma função. É um efeito do que somos de mais misterioso, de mais enigmático e ao mesmo tempo de mais ambicioso. Penso que, de todas as artes, a que revela o que a Humanidade é de mais profundo e absoluto é a música. A literatura é uma música um tom abaixo. Não se explica, não é da ordem do conceito como a filosofia. É natural que os homens reservem à literatura a sua maior atenção. A literatura é o nosso discurso fantasmático, absoluto. Todas as culturas se definem pela relação com o seu próprio imaginário. A encarnação dele é a literatura."

Público, 2017

POESIA

"A poesia é o lugar onde existe essa consciência de que não há resposta, e de que não haver resposta é o aguilhão mais extremo, mais duro, mais incorruptível. Essa não-resposta constitui um Deus."

Público, 2001

"A poesia, quando é, ela é o dizer absoluto."

DNa, Diário de Notícias, 2003

"Somos poetas por definição porque somos falantes, criadores de ficção. Falar é ficcionar, essa é a nossa primeira relação com o mundo."

Expresso, 2017

TEMPO

"Nós somos tempo. Compreender aquilo que nós somos é compreender o tempo que nós somos, aquilo que o tempo exterior, o tempo da história, o tempo da sociedade é em nós. Não se faz essa aprendizagem sem que ela seja uma metamorfose permanente daquilo que nós somos."

"Entre Nós", Universidade Aberta, 2002

"A eternidade não é uma coisa, um sítio final para onde tudo conflui. Ela está implicada na sucessão de instantes."

Público, 2014

"Somos hóspedes do instante, cada um de nós. Mas sempre com o sentimento de que cada esse instante não é diferente do que chamamos de eternidade, a eternidade como uma coleção de instantes. O tempo é feito desses instantes, de nada e de tudo ao mesmo tempo."

Podcast "A Beleza das Pequenas Coisas", Expresso, 2016

"Tenho uma relação com o tempo ontologicamente distraída. O tempo passa, acabou. Eu estou cansado de ter tanto tempo! Para mim talvez interessante seja que haja gerações mais novas que encontrem em mim alguma coisa de estimulante naquilo que escrevo. Isso é que é realmente a consolação das consolações."

Público, 2003

RELIGIÃO

"Cristo não disse que vinha salvar a humanidade como um mágico, mas veio convencido de que a humanidade se salvaria através do amor que ele portava em si mesmo. Tenho na referência crística a referência fundamental da minha educação e da minha maneira de ser."

DNa, Diário de Notícias, 2003

"Não é uma questão de dúvidas [sobre se Deus existe]. O problema é saber se nós existimos para Deus. O problema não é sobre a existência de Deus mas o contrário. A relação com Deus é impensável e sempre nos está pensando. Deus é o limite do pensável. A esse título Deus é absolutamente incontornável. Nós não temos nenhum conceito que seja um englobante da experiência humana em geral a não ser que ela seja só simples reiteração do existente."

Público, 2003

"[É um homem crente?] Esta é uma questão que, uma vez posta, não pode ter uma resposta. Porque é "a" questão. Não concebo uma explicação do mundo que dispense a referência a uma ação transcendente. Nós figuramos como sendo de um ente que criou o mundo, e isso pode ser uma coisa infantilizante. Mas faz parte das nossas referências na tradição ocidental".

Expresso, 2017

PORTUGAL

"Poucos povos serão como o nosso tão intimamente quixotescos, quer dizer, tão indistintamente Quixote e Sancho. Quando se sonharam sonhos maiores do que nós, mesmo a parte de Sancho que nos enraíza na realidade está sempre pronta a tomar os moinhos por gigantes. A nossa última aventura quixotesca tirou-nos a venda dos olhos, e a nossa imagem é hoje mais serena e mais harmoniosa que noutras épocas de desvairo o pôde ser. Mas não nos muda os sonhos.

"Nós e a Europa ou as Duas Razões", 1988

"Os portugueses ainda vivem com um excesso de passado. Sobretudo com essa espécie de fixação histórica, que pode ser de tipo erótico ou outra, temos a nossa fixação sobre o nosso período áureo. Estamos eternamente no século XVI, estamos eternamente navegando para a Índia. Porque foi aquilo que fizemos enquanto povo de mais extraordinário, aí deixámos a nossa marca na história do mundo."

"Entre Nós", Universidade Aberta, 2002

"A nossa História não é trágica, é muito protegida. Mesmo quando a Espanha esteve aqui, Portugal nunca perdeu a sua identidade real. Os espanhóis até pediam autorização para ir para a parte portuguesa! Portugal era a nação mais coerente do ponto de vista da Europa e tem uma espécie de identidade forjada a partir da sua própria fraqueza. Isso é que é verdadeiramente extraordinário - tivemos esta capacidade de fazer da fraqueza força."

Público, 2003

"A história de Portugal é, de facto, singular. Os portugueses foram para todo o lado, mas nunca saíram, levaram a casinha com eles. Fizeram a mesma coisa na Europa. Salvo uma elite, que se preocupava com o que se passava lá fora - e imitava ou recusava -, a todos os outros foi a Europa que lhes chegou: veio por aí abaixo com os caminhos-de-ferro."

Público, 2007

"Portugal não é uma ilha, mas vive como se fosse. Talvez por uma determinação de quase autodefesa. O que me admira mais não é a preocupação constante que temos em saber qual é a figura que fazemos no mundo enquanto portugueses. Todos os países terão à sua maneira essa preocupação. É o excesso dessa paixão. É preciso que não estejamos sempre a viver um Ronaldo coletivo, um "nós somos o melhor do mundo"."

Público, 2017

"O narcisismo português, para mim, é um narcisismo inocente; ninguém pensa que vai morrer no espelho. Mas às vezes acontece."

Público, 2017

EUROPA

"A Europa produziu um dos acontecimentos mais importantes do século passado, que foi precisamente a descolonização. Foram séculos e séculos que davam à Europa a superioridade no acesso às matérias-primas e que eram uma mais-valia para alimentar a economia. Isso acabou. A Europa agora está nua."

Público, 2013

"Somos herdeiros do Império Romano. Tanto a Europa do Sul, mais antiga que a outra, a nórdica, mais tarde a dominante depois dos tempos de Shakespeare. A Europa está confrontada com o sentido da sua própria História mais no sentido da normalização da nossa relação - nos tempos modernos - connosco próprios."

Rádio Renascença, 2016

"É quase escabroso ser europeu e estar preocupado com o destino europeu. Porque aquilo que acontece fora da Europa é muito mais preocupante e dramático."

Expresso, 2017

FERNANDO PESSOA

"Fernando Pessoa deu a volta a toda essa nossa nostalgia e transformou-a em utopia. Hoje, a nível simbólico, vivemos nessa nova universalidade criada pela utopia de que Fernando Pessoa é representante. Não é a utopia de ninguém, não é a utopia de um povo particular, somos nós como representantes da humanidade inteira, aberta, responsabilizada, que vai construir o futuro sem saber qual será esse futuro."

"Entre Nós", Universidade Aberta, 2002

"Cada geração reencontra outra maneira de reescrever o que Homero, Dante, Camões e outros já escreveram. Como Pessoa. Pessoa é um bisneto de Shakespeare. Ele é incompreensível sem as leituras de Shakespeare. Mesmo se não soubéssemos, bastaria consultar o seu volume de Shakespeare. Tudo está sublinhado. A Bíblia dele foi Shakespeare."

Público, 2017

MORTE

"Estamos a falar de uns sujeitos que vão morrer. E que sabem que vão morrer, como os gladiadores do circo romano. O melhor é encarar isso da maneira mais filosófica possível. Quer dizer, sabendo que o que quer que pensemos sobre aquilo que nos espera, nada podemos. Está fora do nosso alcance. Não somos os sujeitos de nós próprios. Nascemos embarcados, como dizia Pascal. Depois, somos desembarcados."

Público, 2014

"A morte é só isso, essa a ausência. Não pode ser dita, não pode ser escrita. Só pelos outros"

RTP, 2015

"Com a morte da minha mulher entrei num outro tipo de espaço. O espaço verdadeiro do diálogo silencioso que eu tenho com alguém que já está num tempo fora deste tempo. É o absoluto silêncio, de que todos nós, num momento ou noutro, partilhamos. Sempre nos morreu alguém. Sempre nos morrerá alguém, sempre morrerá alguém a toda a gente. Nós só somos verdadeiramente quando esse alguém que contava para nós já não existe. Essa é o verdadeiro fim de tudo. Vivo esse silêncio na memória da recordação, na memória, na imagem, sempre com o sentimento da absoluta perdição e ausência."

Podcast "A Beleza das Pequenas Coisas", Expresso, 2016

"Ninguém pode dizer que a morte não assuste. Mas, curiosamente, com o tempo a morte vai ser aceite, não só como inevitável mas pode adquirir... mudar de signo, mudar de sinal, se essa morte é a morte do outro. Ninguém vive a sua morte. A nossa morte não é vivida. É sempre qualquer coisa que nos é imposta, em absoluto, de fora para dentro. A morte do outro, essa é a nossa morte."

Podcast "A Beleza das Pequenas Coisas", Expresso, 2016

"Ninguém vive a sua morte. A nossa morte não é vivida. É sempre qualquer coisa que nos é imposta, em absoluto, de fora para dentro. A morte do outro, essa é a nossa morte."

Podcast "A Beleza das Pequenas Coisas", Expresso, 2016

"O pouco ou muito que eu tinha de fazer neste mundo está feito ou não está feito."

Podcast "A Beleza das Pequenas Coisas", Expresso, 2016

"Nunca sabemos o que verdadeiramente nos move. Gostava de acabar os dias reconciliado com o mundo, e sobretudo saber que mundo foi este em que vivi e o que é a vida. Sei disso tanto agora que tenho quase cem anos como quando tinha dois anos."

Público, 2017









5 books - Bill Gates

 

5 books I loved in 2020
By Bill Gates
Like many people, I had trouble reading for fun during the first couple months of the pandemic. All I wanted to do at the end of each day was shut off my brain while watching something on TV. Although I still got through some great books, I found myself reading less than I normally would.
As we’ve all settled in to the “new normal” of the pandemic, though, I’ve finally gotten back into the groove of reading. My end-of-year book list has five terrific options if you’re looking for something to dive into this winter. It includes a spy thriller, the true story of a medical breakthrough, and a thoughtful exploration of America’s criminal justice system. You can’t go wrong reading any of the books on the list.
The fourth episode of our podcast, Bill Gates and Rashida Jones Ask Big Questions, was also just released. This week’s question is an important one: is it too late to stop climate change? I’ve spent a ton of time this year thinking about climate change—especially while I was working on my upcoming book—and it was a lot of fun to talk about the subject with Rashida. We also spoke to The Sixth Extinction author Elizabeth Kolbert about whether we’re really living in an unprecedented moment for our planet.
Thank you for being an Insider. I hope you and your loved ones have a safe and wonderful holiday season.

Bill signature

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

LIVRO - The Perfect Theory

 


The Perfect Theory: A Century of Geniuses and the Battle over General Relativity Kindle Edition

domingo, 6 de dezembro de 2020

LIVRO - Biology Everywhere

 

Biology Everywhere
Biology Everywhere
By Melanie E. Peffer
Reacquaint yourself with biological concepts — and increase your scientific literacy — with this brilliant book that mines everyday experiences for insight. “Anyone can read and learn from this book, from young adults to experts in biology” (University of Colorado professor Jennifer Knight).
Science

AULA ABERTA: Aprendizagem imersiva com a Realidade Virtual e Aumentada: Ferramentas e práticas

Caro (a) Participante Bom dia Já está disponível o VÍDEO e o PDF da AULA ABERTA : Aprendizagem imersiva com a Realidade Virtual e Aumentada:...