Sir Ken Robinson
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TED2010
Bring on the learning revolution!
Do schools kill creativity?
How to escape education's death valley
Cheguei aqui há 12 anos, e quando cheguei, disseram-me muitas coisas, como: "Os americanos não percebem a ironia." Já ouviram esta ideia? Não é verdade. Viajei por este país todo, em todo o seu comprimento e largura. Não encontrei provas de que os americanos não percebem a ironia. É um daqueles mitos culturais, como: "Os ingleses são reservados." Não sei porque é que as pessoas pensam isto. Invadimos todos os países que encontrámos. (Risos) Mas não é verdade que os americanos não percebam a ironia, mas quero só que saibam que é o que as pessoas dizem sobre vocês nas vossas costas. Quando saem de uma sala de estar na Europa, as pessoas dizem: "Ainda bem que ninguém foi irónico na vossa presença."
Mas eu soube que os americanos percebem a ironia quando me deparei com aquela lei "Nenhuma Criança Fica Para Trás". Porque quem quer que se tenha lembrado daquele título, percebe a ironia. Não é? Porque... (Risos) (Aplausos) porque está a deixar para trás milhões de crianças. Percebo que não seria um nome atrativo para a lei: "Milhões de Crianças Ficam Para Trás". Eu percebo isso. Qual é o plano? Bem, propomos deixar milhões de crianças para trás, e é assim que vai funcionar.
E está a funcionar perfeitamente. Em algumas partes do país, 60% dos miúdos desistem do Secundário. Nas comunidades nativoamericanas, são 80% dos miúdos. Se baixássemos este número para metade, uma estimativa é que traria um lucro para a economia americana, ao longo de 10 anos, de quase 1 bilião de dólares. Da perspetiva económica, isto é um bom cálculo, não é, que deveríamos aplicar? Na verdade, é enorme o custo de limpar os estragos da crise do abandono escolar.
E a razão não é que não estejamos a gastar dinheiro suficiente. Os E.U.A. gastam mais dinheiro em educação do que a maioria dos países. As turmas são mais pequenas do que na maioria dos países. E existem centenas de iniciativas todos os anos para tentar melhorar a educação. O problema é que vai tudo na direção errada. Existem três princípios com os quais a vida humana prospera, e são contrariados pela cultura da educação na qual a maioria dos professores tem de trabalhar e que a maioria dos alunos tem de suportar.
Posso perguntar-vos, quantos de vocês têm filhos vossos? Ok. Ou netos. Quantos de vocês têm duas crianças ou mais? Certo. E o resto já viu estas crianças. (Risos) Pessoas pequenas a andar por aí. Vou fazer uma aposta, e estou confiante de que ganharei a aposta. Se têm duas ou mais crianças, aposto que elas são completamente diferentes umas das outras. Não são? Não são? (Aplausos) Nunca as confundiriam, pois não? Tipo: "Qual és tu? Relembra-me. "A tua mãe e eu vamos introduzir "um código de cores, para não nos confundirmos."
A educação sob o "Nenhuma Criança Fica Para Trás" baseia-se não na diversidade, mas na conformidade. As escolas são encorajadas a encontrar o que os miúdos sabem fazer num estreito espetro de realização. Um dos efeitos do programa "Nenhuma Criança Fica Para Trás" foi estreitar o foco para as chamadas disciplinas CTEM. São muito importantes. Não estou aqui para argumentar contra as Ciências ou a Matemática. Pelo contrário, elas são necessárias, mas não suficientes. Uma educação verdadeira tem de dar igual peso às Artes, às Humanidades, à Educação Física. Um monte de miúdos, desculpem, obrigado. (Aplausos) Há uma estimativa nos E.U.A., atualmente, de que algo como 10% dos miúdos, ou por aí, estão a ser diagnosticados com vários problemas de saúde, sob um título amplo de Síndrome de Défice de Atenção. SDAH. Não digo que tal coisa não exista. Não acredito é que seja uma epidemia, como dizem. Se sentarem miúdos, hora após hora, a fazer um medíocre trabalho de escritório, não se surpreendam se eles se começarem a agitar, não é? (Risos) (Aplausos) As crianças não estão, na maior parte, a sofrer de uma condição psicológica. Estão a sofrer de <i>Infância</i>. (Risos) E eu sei isto porque passei o início da minha vida como criança. Passei pela experiência toda. Os miúdos prosperam melhor com um currículo vasto, que celebre os seus vários talentos, não apenas alguns deles. Já agora, as Artes não são importantes apenas porque melhoram os resultados a Matemática. São importantes porque despertam partes das crianças que doutra forma ficariam adormecidas.
O segundo princípio que leva a vida humana a prosperar é a curiosidade. Se conseguirmos acender a chama da curiosidade nas crianças, elas aprenderão, muitas vezes, sem qualquer assistência. As crianças são aprendizes naturais. É de facto uma grande façanha conseguir matar essa capacidade, ou sufocá-la. A curiosidade é o motor da realização. A razão pela qual digo isto é que um dos efeitos da cultura atual aqui, se tal se pode dizer, tem sido desprofissionalizar os professores. Não há nenhum sistema no mundo nem nenhuma escola no país que seja melhor do que os seus professores. Os professores são a alma do sucesso das escolas. Mas ensinar é uma profissão criativa. Ensinar, corretamente concebido, não é um sistema de transmissão. Vocês não estão lá apenas para transmitir a informação que receberam. Os bons professores fazem isso, mas o que também fazem é orientar, estimular, provocar, envolver. No fim de contas, a educação tem tudo a ver com aprendizagem. Se não a aprendizagem não acontece, não existe educação. As pessoas podem gastar montes de tempo a debater a educação sem nunca debater a aprendizagem. O objetivo da educação é conseguir que as pessoas aprendam.
Um amigo meu, um velho amigo — mesmo muito velho, ele está morto. (Risos) É o mais velho que se pode ser, receio bem. Mas era um tipo fantástico, um filósofo fantástico. Ele costumava falar sobre a diferença entre estar envolvido numa tarefa, e realizá-la. Pode-se estar envolvido numa atividade mas não estar realmente a cumpri-la, como a fazer dieta. É um ótimo exemplo. Lá está ele. A fazer dieta. Está a perder peso? Nem por isso. Ensinar é uma dessas palavras. Podem dizer: "Ali está a Deborah, na sala 34, a ensinar." Mas se ninguém está a aprender nada, ela pode estar envolvida na tarefa de ensinar mas não estar a cumpri-la.
O papel do professor é facilitar a aprendizagem. Só isso. E parte do problema é, penso eu, que a cultura dominante na educação se tem vindo a focar não em ensinar e aprender, mas em testar. Testar é importante. Os testes padronizados têm a sua importância. Mas não deviam ser a cultura dominante na educação. Deviam ser diagnósticos. Deviam ajudar. (Aplausos) Se eu for examinado por um médico, quero testes padronizados. Quero mesmo. Quero saber qual é o meu nível de colesterol comparado com toda a gente numa escala padronizada. Não quero uma escala qualquer que o meu médico inventou no carro.
Mas tudo isso devia apoiar a aprendizagem. Não a devia obstruir, o que, como é óbvio, acontece frequentemente. Em vez de curiosidade, o que temos é uma cultura de submissão. As nossas crianças e professores são encorajados a seguir algoritmos rotineiros em vez de excitar aquele poder da imaginação e da curiosidade. E o terceiro princípio é este: que a vida humana é intrinsecamente criativa. É por isso que todos temos diferentes currículos. Nós criamos as nossas vidas, e podemos recriá-las enquanto as vivemos. É a prática comum de ser um ser humano. É por isso que a cultura humana é tão interessante, diversa e dinâmica. Quer dizer, outros animais podem muito bem ter imaginação e criatividade, mas não está tanto em evidência como a nossa, pois não? Quero dizer, podem ter um cão. E o vosso cão pode ficar deprimido. Mas ele não ouve os Radiohead, pois não? (Risos) Nem se senta a olhar pela janela com uma garrafa de Jack Daniels. (Risos)
Não tem de ser assim. Não tem mesmo. A Finlândia aparece frequentemente à frente em Matemática, Ciências e Leitura. Reparem que só sabemos que eles são bons nisso, porque é aquilo que é testado atualmente. Esse é um dos problemas dos testes. Não procuram por outras coisas que também interessam. O importante sobre o trabalho na Finlândia é: eles não são obcecados com essas disciplinas. Eles têm uma abordagem ampla da educação que inclui Humanidades, Educação Física, e Artes.
Não. Penso que há uma população de cerca de 5 milhões de pessoas na Finlândia. Mas podemos compará-la a um estado americano. Muitos estados americanos têm menos população do que isso. Estive em alguns estados nos E.U.A. em que era a única pessoa lá. (Risos) Mesmo. Até me pediram que trancasse a porta ao sair. (Risos)
Mas o que todos os sistemas de elevado desempenho do mundo fazem é o que infelizmente não é hoje evidente nos sistemas nos E.U.A. — quer dizer, como um todo. Uma das coisas é que individualizam o ensino e a aprendizagem. Reconhecem que são os estudantes que aprendem e o sistema tem de envolvê-los, à sua curiosidade, à sua individualidade, e à sua criatividade. É assim que os fazemos aprender.
A segunda coisa é que atribuem um estatuto muito elevado à profissão docente. Reconhecem que não se pode melhorar a educação, se não se escolher excelentes pessoas para ensinar e se não lhes for proporcionado um apoio constante e um desenvolvimento profissional. Investir no desenvolvimento profissional não é um custo. É um investimento, e qualquer país com sucesso o sabe, seja Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Singapura, Hong Kong ou Xangai. Eles sabem que é assim.
E a terceira é, eles desenvolvem a responsabilidade, ao nível da escola, de fazer esse trabalho. Há aqui uma grande diferença entre entrar num modo de comando e controlo na educação — É o que acontece em alguns sistemas. Os governos centrais decidem, ou os governos estatais decidem, eles é que sabem e vão dizer-vos o que fazer. O problema é que a educação não acontece nas salas de conferências dos edifícios legislativos. Acontece nas salas de aula e nas escolas, e as pessoas que a fazem são os professores e os alunos, e se se retira a sua capacidade de decisão, a educação deixa de funcionar. Têm de a devolver às pessoas. (Aplausos)
Existe trabalho fantástico a acontecer neste país. Mas tenho de dizer que acontece apesar da cultura dominante na educação, não por causa dela. É como se estas pessoas estivessem sempre a remar contra a maré. E penso que a razão para isso é: muitas das políticas atuais são baseadas em conceções mecanicistas da educação. É como se a educação fosse um processo industrial que pudesse ser melhorado apenas por se ter melhor informação, e penso que algures no fundo da mente de certos legisladores está a ideia de que se a afinarmos bem o suficiente, se o conseguirmos, tudo decorrerá perfeitamente no futuro. Mas isso não vai acontecer, e nunca aconteceu.
A questão é que a educação não é um sistema mecânico. É um sistema humano. É acerca de pessoas, pessoas que ou querem aprender ou não querem aprender. Cada aluno que abandona a escola tem uma razão para o fazer que está enraizada na sua biografia. Podem achá-la aborrecida. Podem achá-la irrelevante. Podem achar que está desenquadrada da vida que vivem fora da escola. Existem tendências, mas as histórias são sempre únicas. Estive recentemente num encontro em Los Angeles sobre — são chamados programas de educação alternativos. Estes são programas projetados para reintegrar os miúdos na educação. Têm certas características comuns. São muito personalizados. Dão forte apoio aos professores, têm laços apertados com a comunidade um currículo abrangente e diverso, e frequentemente programas que envolvem os estudantes, tanto fora como dentro da escola. E funcionam. O que é interessante para mim é que esta é a chamada "educação alternativa". Percebem? E as provas que vêm de todo o mundo mostram que se todos fizéssemos isto, não seria preciso uma alternativa. (Aplausos)
Penso que temos de adotar uma metáfora diferente. Temos de reconhecer que se trata de um sistema humano, e existem condições sob as quais as pessoas prosperam, e condições sob as quais isso não acontece. Somos, afinal de contas, criaturas orgânicas, e a cultura da escola é absolutamente essencial. Cultura é um termo orgânico, não é?
Não muito longe de onde vivo, existe um sítio chamado Vale da Morte. O Vale da Morte é o local mais quente e seco dos E.U.A., e nada cresce ali. Nada cresce porque não chove. Daí ser o Vale da Morte. No inverno de 2004, choveu no Vale da Morte. 178 mm de chuva caíram em muito pouco tempo. E na primavera de 2005, houve um fenómeno. Todo o chão do Vale da Morte ficou coberto de flores por algum tempo. O que provou foi que o Vale da Morte não está morto. Está adormecido. Mesmo por baixo da superfície existem estas sementes de possibilidade esperando pela chegada das condições certas, e com estes sistemas orgânicos, se as condições forem as certas, a vida é inevitável. Acontece a toda a hora. Peguem numa área, numa escola, num agrupamento. Mudem as condições, deem às pessoas um sentido diferente de oportunidade, um conjunto diferente de expetativas, uma gama maior de oportunidades, apoiem e valorizem as relações entre professores e alunos, ofereçam às pessoas o arbítrio para serem criativas e para inovarem naquilo que fazem, e as escolas que estavam desoladas voltam à vida.
Os grandes líderes sabem disso. O verdadeiro papel de liderança na educação — e penso que isto é verdade a nível nacional, a nível estatal, a nível de escola — não é e não deve ser o comando e controlo. O verdadeiro papel da liderança é o controlo do clima, criando um clima de possibilidades. E se o fizerem, as pessoas vão estar à altura e vão atingir coisas que não antecipavam e não podiam esperar.
Há uma citação fantástica de Benjamin Franklin. "Existem três tipos de pessoas no mundo: "Os que são imutáveis: "pessoas que não entendem, não querem entender, "e não vão fazer nada acerca disso. "Existem pessoas mutáveis: "pessoas que veem a necessidade de mudança "e estão preparadas para ouvir sobre isso. "E há pessoas que se movem, "pessoas que fazem as coisas acontecer." Se pudermos encorajar mais pessoas, isso será um movimento. E se o movimento for suficientemente forte, isso é, no melhor sentido do termo, uma revolução. E é disso que precisamos.